Reunido em vigília em torno da desocupação do acampamento Hugo Chávez, na Fazenda Santa Tereza, em Marabá, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) dá uma aula de dignidade. Desde a madrugada do dia 13, as 300 famílias iniciaram a desmontagem de seus barracos. Às 7 horas da manhã, com a chegada da tropa do Comando de Missões Especiais, sob o comando do coronel Queiroz, em apoio aos oficiais de justiça da Vara Agrária de Marabá, todos os acampados montaram barricada na entrada do acampamento e instalaram uma roda de negociação com os oficiais de justiça, com a finalidade de esclarecer as condições da desocupação pacífica em resistência.
Dispensaram caminhões e qualquer apoio do fazendeiro Rafael Saldanha, exigiram a montagem de posto avançado de vigilância da PM sobre os pistoleiros e funcionários do fazendeiro – que na segunda-feira (11) promoveram mais um atentado a bala contra os acampados -, exigiram que o respeito aos acampados fosse mantido por parte da tropa, uma vez que na desocupação do acampamento Helenira Rezende, na Fazenda Cedro, foram registradas ofensas de policiais aos sem-terra. Ao obterem resposta positiva quanto às demandas, os acampados perfilaram-se, formando um corredor para receber a polícia, que vinha garantir o direito de Rafael Saldanha em detrimento da Justiça.
Entoando os cânticos do movimento, receberam a polícia e seguiram em marcha até o interior do acampamento, onde muitos barracos já estavam desmontados. A preocupação dos acampados passou a ser com a operação de desmonte e o cuidado com tudo que tem valor para o reacampamento, em lugar ainda incerto: palha para cobertura, lâminas de metal, lâminas de PVC, pedaços de lona, além de vigas, esteios, cavacos, tábuas, pranchas e varas.
Formou-se assembleia para dividir tarefas e definir brigadas de desmonte, carregamento de caminhões, alimentação, comunicação, registro e negociação constante com os oficiais de justiça. Organização, resiliência, paciência e, principalmente, firmeza de propósito. Enquanto esteja tudo bem, a experiência ensinou que a pressão e o desrespeito contra os desalojados costuma acontecer no final do dia, quando a paciência dos policiais se esgota.