Eugênio Silva mora no Prata há 11 anos / Foto: Edila Lima – CDHeDC |
Eugênio Araújo da Silva é maranhense de Bacabal, foi levado para a antiga Colônia do Prata por um conhecido, que o deixou na entrada da comunidade há 11 anos. Esta e tantas outras narrativas se assemelham com a história de homens e mulheres que passaram a viver isolados porque haviam sido afetados pela hanseníase.
Para resgatar essa memória e verificar a situação das sete pessoas que ainda vivem como internos na antiga Colônia da Vila do Prata, em Igarapé-Açu, uma comitiva de representantes das Comissões de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor (CDHeCD) e da Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), presididas, respectivamente, pelos deputados Carlos Bordalo (PT-PA) e Dr Jaques Neves (PSC), acompanhada pelo Dr. Cláudio Salgado, presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), estiveram em Igarapé-Açu nesta quarta-feira (29).
Este ano o Pará foi um dos estados visitados pela relatora especial da ONU para a Eliminação da Discriminação contra as Pessoas Afetadas pela Hanseníase, Alice Cruz. Em sua visita, informou que as piores situações de pessoas com hanseníase encontram-se na Amazônia Legal e o Pará apresenta altos registros da doença.
Em maio de 2015 a CDHeDC realizou uma diligência na Colônia do Prata, no Hospital Marcello Cândia e Abrigo João Paulo ll, ambos localizados em Marituba, região metropolitana de Belém, que gerou um relatório com as demandas sobre falta de produtos, equipamentos e reformas que foram apresentados à Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa), em consequente reunião de trabalho na ALEPA.
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Pavilhão onde os pacientes ficavam / Edila Lima |
Passados quatro anos, pelas informações colhidas de lideranças e representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), não houve avanços no atendimento das solicitações que constam no relatório.
Na próxima sexta-feira (31) a comitiva irá visitar o Hospital Marcello Cândia e o abrigo João Paulo ll. Após as visitas ambas as comissões irão apresentar dados atualizados ao atual governo sobre a realidade das condições dos espaços onde são tratados os pacientes.
Colônia do Prata
A Vila de Santo Antônio do Prata não recebe mais pacientes, mas vivem ainda sete pessoas da época da colônia desativada em 1986. Contudo, nesse ano, ainda recebiam pacientes, segundo relato de Paulo de Oliveira Barbosa, morador da Colônia.
Criada em 1924 a Colônia foi abrigo daqueles que eram excluídos da sociedade. A doença, na época vulgarmente conhecida como lepra, descortinava o medo, o preconceito e a discriminação. Banir e isolar foi a solução encontrada pela sociedade. Barbosa ainda conta que o local chegou a receber cerca de 1200 pessoas entre os anos de 1950 e 1970.
“Houve muitas mortes, não havia tratamento adequado e por volta dos anos 50 surge tratamento no mundo, mas não aqui e se sentiam de certa forma como cobaias, em 1986 quando fechou a colônia ainda havia internamentos”, relata.
Conforme o senhor Barbosa, o frei capuchinho Carlos e Daniel de Samarate construíram a igreja e um centro para catequizar os índios Tembés, nativos da região e também, o pavilhão D, para abrigar as irmãs capuchinhos. O Frei Daniel ao conviver por 14 anos na Vila contraiu hanseníase, foi internado no leprosário do Tucunduba em Belém e faleceu em 1924.
Centro de catequese / Edila Lima |
Barbosa pontua que além de viverem sete pessoas que são daquela época da colônia, o seu entorno é constituído por pessoas que são remanescentes e descendentes dos que ali viveram.
“Não há um médico dermatologista na Vila para fazer um acompanhamento dos moradores para evitar recidiva, que é o reaparecimento da doença”, explica.
Para além da questão da saúde a antiga colônia do Prata carrega a memória de um passado que ainda bate à porta e para assessoria da CDHeCD o patrimônio histórico da Vila precisa ser resgatado como o centro de catequese, construído pelos capuchinhos Freis Carlos de São Martinho e Daniel de Samarate.
Colaboração Edila Lima, assessora na CDHeCD da Alepa