Comunidades enfrentam rotina de doenças e abandono em Marituba

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A dona de casa Andréa Cristina tem 26 anos e está no início de sua primeira gravidez. Desde o ano passado, sua rotina tem sido uma constante busca por atendimento médico, mas não por causa da gestação. “Comecei a sentir cansaço, falta de ar e dor no peito. Ia ao médico, receitavam remédio, eu melhorava. Depois voltava para casa, piorava. Altas horas da noite, voltava para a emergência”, conta ela. “Até que fiz um raio-X do pulmão e o exame atestou uma mancha”. 


Moradora do bairro Campina Verde, em Marituba, região metropolitana de Belém, Andréa tem sido afetada diariamente pelo forte odor exalado pelo lixão, localizado a poucos metros de sua pequena casa de alvenaria. “Quando o cheiro está muito forte, vou para a frente do ventilador, mas não consigo respirar. Como a situação está se agravando e pode prejudicar o bebê, a única solução é abandonar a minha casa, que eu lutei tanto para conseguir”, diz ela, sem esconder a dor e a indignação.

O relato de Andréa foi feito durante a diligência realizada pelas comissões de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, presidida pelo deputado estadual Carlos Bordalo (PT), e de Desenvolvimento Urbano da Câmara Federal, tendo à frente o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL), nesta segunda-feira, dia 04 de junho. A diligência foi acompanhada por representantes da Defensoria Pública do Estado, Universidade Federal do Pará, Instituto Evandro Chagas, Comissão de Saúde da Alepa e Movimento Fora Lixão de Marituba, além dos vereadores Fernando Carneiro, de Belém, e Chica Estrela, de Marituba. 

Assim como Andréa, muitos moradores do município de 130 mil habitantes estão padecendo com toda sorte de doenças: infecções respiratórias, manchas na pele, dor de cabeça, vômitos e diarreia, além da proliferação de ratos, moscas e outros insetos, prejudicando também o comércio. Eles afirmam que os problemas surgiram após a instalação do aterro sanitário, popularmente conhecido como “Lixão de Marituba”, em 2015, de propriedade das empresas Guamá Tratamentos de Resíduos LTDA (Revita), Veja Valorização de Resíduos S/A e Solvi Participações S/A. O aterro recebe todo o lixo de Belém, Ananindeua e Marituba. Segundo denúncias, o lixo é despejado diretamente no solo, sem qualquer separação entre recicláveis e orgânicos, e sem o sistema de tratamento de chorume, gerando um passivo gigantesco, de mais de 200 mil toneladas, que estaria sendo depositado em bacias ou enormes piscinas, algumas sem manta de impermeabilização, contaminando o lençol freático. 

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Além dos moradores de Marituba, o lixão atinge diretamente a população do Quilombo do Abacatal, onde vivem cerca de 500 quilombolas há mais de 300 anos. A área é banhada pelo rio Uriboquinha que, embora pequeno e de pouca vazão, estaria sendo utilizado para o descarte de chorume. As empresas são alvo de inúmeras ações promovidas pelo Ministério Público do Estado do Pará, inclusive quatro ações criminais, que culminaram com a prisão de dois diretores e um funcionário.

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Ruticleia de Souza Teixeira, diarista, 36 anos, mora na Rua Liberdade, no bairro Santa Lúcia 1, bem ao lado do lixão. Ela consome água de um poço artesiano, mas teme a contaminação do lençol freático. “Sabemos que existe contaminação, porque as frutas do nosso quintal estão comprometidas. Já vem tudo podre. Mas não temos condições de comprar água mineral e nem de ferver a água do poço”, diz ela.

A poucos metros dali, está localizada a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Lúcia, onde a professora Sandra do Socorro também relata problemas de saúde. “Estou há dois anos tratando uma tuberculose. No ano passado, fiquei internada durante 22 dias na Santa Casa”, conta. O odor é mais forte de madrugada ou logo após as chuvas. E frequentemente a comunidade vê o dia nascer com uma espécie de “neblina”. “Estamos inalando ar poluído e isso está nos adoecendo”, acredita. 

Vanderléia da Silva, moradora da Comunidade Albatroz há cinco anos, tem depoimento semelhante: “A nossa respiração não é mais a mesma. E agora a nossa pele fica toda ruim”, diz ela, acrescentando que a empresa responsável pelo lixão nunca fez contato para oferecer qualquer tipo de atendimento à população. “Infelizmente não temos como registrar o mau cheiro, só passando o dia aqui para sentir e isso depende do vento, da temperatura. E nem todo mundo consegue exames ou tem dinheiro para pagar uma consulta particular”. 


Cileide Tavares, 34, é mototaxista. Ela diz que o mau cheiro provoca náuseas e dor de cabeça. “Às vezes acordamos às cinco da manhã com aquele fedor insuportável”, conta. “Meu filho está cheio de manchas no corpo. A gente sofre muito aqui com esse lixão”. 

“Vergonha”

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Os impactos atingem também os pequenos empresários de Marituba. Quem investiu em restaurantes e balneários está vendo a clientela sumir e amargando prejuízos. “Nosso movimento aos finais de semana caiu em pelo menos 50%”, conta Sílvio Leal, do balneário Floresta Park, no bairro Campina Verde. 


“Ontem (domingo), estava cheio aqui, quando começou a vir aquele cheiro de coisa podre. A gente fica com vergonha e pede desculpas, mas as pessoas não aguentam e acabam indo embora”, lamenta. Difícil também é administrar as críticas nas redes sociais, que acabam manchando a imagem do empreendimento. “As pessoas dizem que o lugar é bom, o clima é familiar, mas o cheiro é podre. É um constrangimento”. 

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Joelda está esperando o quarto filho. Aos seis meses de gravidez, ela mostra as manchas escuras pelo corpo. “Eu nunca tive isso”, aponta. A filha caçula está há cinco meses com uma alergia respiratória. “Minha filha menor adoeceu e nunca mais ficou boa. Acordamos com o mau cheiro de madrugada, sentimos enjoo e dor de cabeça. A gente não consegue nem dormir”, reclama. 

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Na Comunidade Sagrada Família, no bairro São João, vivem cerca de 20 famílias de pequenos agricultores. A renda caiu bastante com as notícias de contaminação do solo e da água. “Ninguém quer mais comprar nossos produtos”, diz Luiz Gonzaga, 53 anos. “Agora a pupunha está escassa e já nasce bichada. A mesma coisa acontece com o jambo e a manga. Toda a nossa horta está sendo prejudicada. Onde a gente pescava não presta mais”, diz ele, contando que Embrapa e Emater já estiveram na área coletando amostras do solo e da água, mas ainda não houve retorno. 

“Tive que parar”

Morador da mesma comunidade, Carlos André Queiroz não consegue conter o choro quando relata que está há um ano em tratamento de pneumonia. “Eu trabalhava fazendo roçado, mas tive que parar minha atividade. Agora vivo correndo para todo canto fazendo exame, e nada dá resultado. Só estou vendo a minha situação piorar”. 

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Marcela Lima, de 23 anos, tem uma bebê de nove meses. Ela conta que passou a gravidez tomando medicações para alergias respiratórias. “Fiquei com asma, rinite e mais cinco tipos de alergia. Hoje vivo à base de remédios e sem dinheiro para mais nada. Nossas crianças adoecem de vômito e diarreia, e os idosos também sofrem, porque é uma doença atrás da outra e não conseguem mais se recuperar”.

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Dona Iraci Cordeiro dos Santos, 60 anos, relata problemas no estômago, diarreia, vômito, fraqueza e desânimo. “Morei a minha vida inteira aqui e não era assim. Achei que esse era o melhor lugar do mundo pra gente viver”. 


Júnior Vera Cruz , do Fórum Permanente Fora Lixão de Marituba, diz que a população não tem mais a quem recorrer. “Com a chegada do verão, as bactérias vão se proliferar e a situação vai piorar. Nossos direitos mais básicos estão sendo violados. Nossa população está morrendo”, resume. 

Recentemente, o Instituto Evandro Chagas esteve em Marituba coletando amostras de água de poços, poeira suspensa e solo de quintais em nove comunidades. O resultado dos exames deve ficar pronto dentro de duas semanas. Até lá, a Comissão de Direitos Humanos da Alepa irá apresentar o relatório da diligência. “Está claro que está ocorrendo algo muito grave em Marituba, uma verdadeira crise humanitária, porque os relatos são semelhantes, mesmo em comunidades diferentes”, diz o deputado Bordalo. “A Comissão de Direitos Humanos está atenta e, mesmo sabendo que não é uma questão simples, vamos somar forças para enfrentá-la”. (Texto e fotos: Márcia Carvalho/ CDH Alepa)

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