Um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio, na noite deste domingo (02). Esse foi o presente recebido no ano em que a instituição completou 200 anos de existência. Mais de 20 milhões de itens viraram cinza. Eram fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte: uma tragédia sem precedentes.
“O museu mais antigo do país, onde funcionou a sede da monarquia, foi abaixo pelo descaso de nossos governantes com a memória histórica e o conhecimento. Infelizmente, cultura, ciência e educação não são prioridade no Brasil. Perdemos um acervo histórico, arqueológico, antropológico, etnográfico e de história natural respeitado internacionalmente. Mais de 100 peças do Museu Paraense Emílio Goeldi também foram queimadas no incêndio do Museu Nacional.
A memória e a ciência brasileira mundial estão em luto”, declarou o deputado estadual Carlos Bordalo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alepa, em pronunciamento na tribuna.
Bordalo chamou a atenção para o estado de abandono do patrimônio histórico no Estado. “A destruição do Museu Nacional é um exemplo extremo do que se repete silenciosa e diariamente em todo o país, o que não é diferente aqui. A falta de investimentos e prioridades se traduz, em alguns casos, na aniquilação da história do Pará”, disse o parlamentar.
O caso do Museu Goeldi é emblemático: em 2017, o museu tinha orçamento previsto de R$ 12,7 milhões, mas sofreu um corte de 44%, quase metade da verba. Por causa do déficit orçamentário, a instituição seria obrigada a fechar duas bases essenciais: o Parque Zoobotânico, que recebe 400 mil turistas por ano, e a Estação Científica Ferreira Pena, localizada no Marajó. Graças a uma grande mobilização da sociedade, o Governo Federal garantiu R$ 3 milhões para o museu.
O Palacete Bolonha, um ícone da capital paraense, erguido durante o período áureo da borracha, está abandonado e precisa ser restaurado com urgência: janelas e vidros quebrados, pintura desbotada e descascada, poeira e lixo acumulados, infiltrações, mato nascendo entre as frestas.
Em junho deste ano, o Ministério Público do Estado (MPE), por meio do 1º promotor de Justiça do Meio Ambiente, Patrimônio, Cultura, Habitação e Urbanismo de Belém, Benedito Sá, assinou portaria para investigar a responsabilidade da Prefeitura de Belém na falta de conservação do imóvel, bem como verificar a situação de prédios vizinhos.
O Solar da Beira, no Ver-o-Peso, prédio tombado pelo Iphan, está interditado. Devido o abandono, o prédio chegou a ser ocupado por artistas em 2015, em uma iniciativa de trazer utilidade para o espaço. A estrutura está vazia, com cobertura danificada, armazena lixeiras e está com as janelas fechadas por tapumes e caixotes. Segundo feirantes, o espaço poderia ter utilidades como oferecer serviços de cultura e lazer para a população.
Nos últimos quatro anos, a Prefeitura de Belém gastou aproximadamente R$ 360 mil com a manutenção do Mercado de São Brás, em Belém. No entanto, as condições do prédio, uma das principais construções da cidade, são lamentáveis. Os monumentos estão depredados e com algumas partes furtadas. No interior, diversas infiltrações, buracos no telhado, entre outros problemas.
São mais de 150 casos de abandono de patrimônio histórico acompanhados pelo Ministério Público Federal (MPF) no Pará. Segundo o órgão, se esses locais não forem preservados, será apagada um pedaço da memória paraense.
“Muitos prédios em Belém já foram imponentes, clássicos e charmosos. Hoje, parte da arte esculpida por mãos talentosas, ricas em história e cultura, se perde em meio ao descaso e a falta de manutenção. O último levantamento feito pela Associação dos Amigos do Patrimônio de Belém aponta que somente no centro histórico da capital existem pelo menos seis mil imóveis e boa parte está em situações precárias”, denunciou Bordalo.