Representantes da comunidade quilombola Santana do Baixo Jambuaçu, no município de Moju, onde a líder Maria Trindade da Silva Costa, 68 anos, foi assassinada, estiveram nesta segunda-feira (26), na Assembleia Legislativa do Pará, para cobrar apoio dos parlamentares na apuração rigorosa do caso. Eles foram recebidos pelo deputado estadual Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Alepa. Com a morte de Maria Trindade, sobe para 19 o número de assassinatos de trabalhadores rurais no Pará somente em 2017.
Durante a reunião, os representantes da comunidade manifestaram luto e indignação. Eles contaram que, na sexta-feira (23), Maria Trindade estava torrando farinha, depois voltou para o roçado e, em seguida, saiu de bicicleta, como era de costume. No dia seguinte, como ela não havia retornado, começaram a procurá-la, e que foi o próprio filho quem encontrou o corpo da vítima, que havia sido enterrado, com os braços quebrados e a cabeça bastante machucada.
“Nossa comunidade nunca havia passado por isso. Ela era muito querida por todos, era uma rainha para nós”, disse a quilombola Maria Olinda. “Ainda estamos em choque, é muita tristeza. Por isso viemos pedir ajuda para que haja Justiça, para que descubram quem fez isso”, completou. Maria Trindade deixou seis filhos e seis netos. O marido tem 72 anos e é deficiente físico.
Ex-tesoureira da Associação Bambae, Maria Trindade foi a porta-voz da comunidade durante muitos anos. Na década de 1980, se impunha contra a empresa Reasa, atualmente Marborges, pela titulação das terras quilombolas. Segundo os moradores, essa empresa continua dentro da área do quilombo, plantando dendê sem a autorização da comunidade.
Ainda de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Moju, as comunidades quilombolas da região vivem ameaçadas pelo projeto da ferrovia Norte-Sul, mas jamais foram consultadas. Uma das comunidades ameaçadas, São Bernadinho do Jambuaçu, corre o risco de desaparecer.
Para o deputado Carlos Bordalo, Maria Trindade era uma liderança importante para a comunidade quilombola paraense. “Esta é uma área de grande tensão social, especulação e disputa. Nos cabe estar atentos e mobilizados para cobrar da Polícia Civil uma investigação rigorosa. É preciso saber o que ocorreu, quem foi o causador de tamanha violência simbólica e política contra o povo quilombola”, disse o parlamentar.
Carlos Bordalo ressaltou que os conflitos socioambientais com base em interesses econômicos estão explodindo no Estado, retornando com força a estratégia de eliminação de lideranças. “É preciso atentar, ainda, para o forte teor de feminicídio destes casos. Já são três lideranças mulheres assassinadas, somente em 2017: Kátia Martins, que liderava o assentamento 1º de Janeiro, em Castanhal; Jane Oliveira, em Pau D’Arco, executada à queima-roupa com tiro na cabeça; e, agora, a companheira Maria Trindade, assassinada covardemente”.
Cerca de 47 famílias vivem na comunidade Santana do Baixo Jambuaçu. Na próxima quinta-feira (29), a Comissão de Direitos Humanos da Alepa fará uma diligência à comunidade para apurar melhor os fatos e prestar solidariedade à família da vítima.