Nesta terça-feira, dia 18, o deputado estadual Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, relembrou o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido há 21 anos, em que 19 trabalhadores sem-terra foram mortos pela Polícia Militar. Em seu discurso na tribuna da casa legislativa, o parlamentar observou que o sudeste do Pará permanece uma das áreas de maior tensão no meio rural brasileiro.
Dos 154 policiais militares denunciados pelo Ministério Público, apenas dois foram condenados por homicídio doloso e encontram-se presos: o coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria Pereira, que comandaram a ação no dia do massacre. “A ausência de punição dos culpados é certamente a principal razão pela qual a região de Eldorado dos Carajás continua entre as mais tensas do campo brasileiro”, disse o deputado. Dos 846 assassinatos registrados na região, de 1980 a 2014, apenas 293 tiveram inquérito policial instaurado. Desses, 62 pessoas foram levadas a julgamento, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra.
Para relembrar a data do Massacre de Eldorado, como em todos os anos, uma programação foi realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na “Curva do S”, local onde aconteceu o confronto. Participaram as 690 famílias que hoje vivem no Assentamento 17 de Abril, bem como manifestantes de várias cidades do país, que estavam acampados desde o último dia 10 para participar da programação neste dia 17. O objetivo é chamar a atenção para políticas públicas na reforma agrária. “Uma luta que precisa permanecer viva”, completa Carlos Bordalo.
No dia 17, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou sua publicação anual, intitulada “Conflitos no Campo Brasil 2016”. Em sua 32ª edição, o relatório congrega dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, incluindo indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.
Segundo o relatório, assassinatos em conflitos no campo batem novo recorde em 2016, com destaque para o maior número de assassinatos em conflitos no campo dos últimos 13 anos: 61 assassinatos – 11 a mais que no ano anterior, quando foram registrados 50 assassinatos. Destes, 48 ocorreram na Amazônia Legal. Além do aumento no número de assassinatos, houve aumento em outras violências. Ameaças de morte subiram 86% e, tentativas de assassinato, 68%. O relatório pode ser acessado no endereço da CTP.
“Os dados mostram 2016 como um dos anos mais violentos da nossa história recente”, alerta Carlos Bordalo. Segundo os dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da CPT, entre 1985 e 2016 foram 1.387 casos, com 1.834 pessoas assassinadas em conflitos no campo. Deste total, apenas 112 casos foram julgados, e houve a condenação de apenas 31 mandantes destes assassinatos.