Outro debate importante sobre a política paraense pautado neste domingo, dessa vez no Diário do Pará, foi o artigo “E aí? A força do povo não venceu?”, do sociólogo Luís Antônio Muniz.
Nele, Muniz questiona o slogan “A força do povo vai vencer”, usada no segundo turno pela nossa campanha. Parafraseando o professor Fábio Castro, ele diz que houve um erro de “vanguardismo” (se tomar como representante de uma coletividade sem mandato para tal) ao se usar tal consigna, questionando uma suposta rejeição de 40% do eleitorado à governadora Ana Júlia, se não eram “povo os “quase um milhão de pessoas que votaram no adversário” e exigindo um respeito pela “óbvia e majoritária parcela do povo que votou em Jatene”. Após declarar que tal erro se deveu à “capacidade de raciocinar” dos “marqueteiros”, ele propõe: “Não foi o povo que venceu?”
De minha parte, creio que não.
Uma coisa é saber que só existe representação com mandato para tal e que o resultado das urnas, neste caso, deve ser respeitado, pois expressa uma legalidade democrática, mas estamos falando aqui de interesses imediatos e históricos.
Como falar que o povo, conjunto das classes subalternizadas pelo Capital, venceu se a plataforma que governará o Pará tem como eixos o Estado Mínimo (englobando serviços públicos como saúde, educação, assistência e segurança), se acredita piamente na autoregulação dos mercados (que sempre produziu desemprego e pobreza), se tem como filosofia o corte de investimentos e o arrocho salarial?
Esses não são interesses da maioria do povo, mas de quem lucra com a terceirização dos serviços públicos, com um Estado que não “gasta”para poder melhor pagar juros exorbitantes para seus credores privados e para quem gira seu negócio para onde avdém lucro, sem se importar com toda a cadeia humana e social que dele depende.
E essa História nós já conhecemos: termina com mobilidade social do “povo” rumo à pobreza, com aumento do desemprego do “povo”, do “povo” com salário de fome, do “povo” com acesso restrito aos bens culturais, etc.
Não estou, com isso, questionando a soberania popular, sei que não existe representação automática e mecânica de classes e grupos sociais, mas sim grupos que se remetem a estes em busca de representá-los a partir de filosofias políticas. Por isso, não foi o “povo” que venceu, pois a vitória foi de um condomínio político que se propõe a representar as elites, mas que precisa do “povo” porque seu nicho social é extremamente minoritário.
Chico Buarque e Ferreira Gullar são dois velhos camaradas sim, mas o primeiro considerou que a democracia formal exige democracia material. O segundo, contentou-se com a liberdade individual de poder falar, escrever, curtir, viajar, comer o que bem quer para si mesmo.
O alento, diante do fiasco eleitoral de Ana Júlia Carepa e do PT no Pará, é o caráter didático que embute a vitória de Simão Jatene. O ressurgimento da tucanalha evidencia, ironicamente, que está longe de ser regra o que garantiu o triunfo do prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB), o nefasto Dudu, nas eleições municipais de 2008. O nefasto Dudu, recorde-se, conseguiu ser reeleito, a despeito da rejeição popular e da desastrosa administração que protagoniza, valendo-se, acintosamente, do poder econômico e da escandalosa utilização da máquina administrativa municipal.
A derrota de Ana Júlia evidencia que, com alternativas mais palatáveis do que aquelas que se contrapunham ao nefasto Dudu, em 2008, teria sido possível defenestrar do Palácio Antônio Lemos o falsário do passado, que fez carreira política como o farsante do presente. A escalada das abstenções no Pará, nas eleições deste ano, sugere o ceticismo diante do déjà-vu da política paraense. Jatene, com seu arsenal de pantominas eleitorais, galvanizou a insatisfação do eleitorado, diante do desgoverno que foi a administração Ana Júlia Carepa. São robustos os indícios de que Simão Jatene reprisou, na sucessão estadual deste ano, o fenômeno que representou a eleição de Edmilson Rodrigues, então PT, hoje PSol, para a Prefeitura de Belém, em 1996.
Augusto Barata
PermalinkQuer ver uma prova de que Jatene não é melhor e seu governo não foi melhor que do de Ana Júlia? É só analisar a questão dos DAS, dos assessores colocados no governo pela janela e por decisão política. Veja o que diz o JORNAL DIÁRIO DO PARÁ, do dia 19/12/2006.
“Jatene gasta 12 milhões com assessores
Até outubro, já em plena campanha eleitoral, o Estado arcava com o ônus de sustentar uma folha salarial de elite para cerca de 1.000 assessores especiais (DAS), consumindo mensalmente R$ 1.058.000, encargo que se formos multiplicar pelos 12 anos de governo tucano ao longo do ano sobe para mais de R$ 12 milhões. O valor total do prejuízo, ao longo de 12 anos de administração do PSDB no Estado, atinge a quantia impressionante de R$ 152,3 milhões. Essa lista completa, comentada e jamais divulgada, só foi conhecida nas últimas semanas (veja quadro de nomes abaixo).
PermalinkDepois da derrota nas urnas, o partido tucano iniciou um processo de enxugamento dessa folha clandestina para evitar o escândalo da demissão em massa de DAS. A estratégia adotada foi a da exoneração gradual. Em pouco mais de 40 dias, a partir de novembro, o governador Simão Jatene exonerou quase 290 ocupantes desses cargos “fantasmas”, que não fazem parte da estrutura funcional do Estado.
Como oficialmente esses servidores não existem, também não há limite para as nomeações e nem critérios para o preenchimento dos cargos. Os “fantasmas” são lotados na Governadoria. São assessores especiais e de gabinete que não batem ponto e, em grande parte, não moram em Belém e alguns não comparecem ao local de trabalho sequer para receber o contracheque. Não existe, também, qualquer controle sobre a produtividade dessas pessoas. Caso todos os DAS aparecessem para trabalhar na Governadoria não haveria espaço físico para acomodá-los, pois a repartição possui um outro corpo funcional, real e produtivo.”