O
ex-governador do Pará, Aurélio do Carmo, foi escolhido para ser o primeiro
convidado a dar o testemunho sobre o período da ditadura militar para a
Comissão Estadual da Verdade, criada por lei estadual e instalada em 1º de
setembro pelo governador Simão Jatene. Aos 92 anos, o único governador vivo
que foi deposto pelos militares após o golpe, demonstrou lucidez ao recordar
os fatos que levaram à ditadura. “No Pará, houve torturas físicas e torturas
morais, eu sofri apenas torturas morais. Os atos que sucederam após eu ser
deposto foram atos de perseguição política que me fizeram ir para o Rio de
Janeiro em um autoexílio que durou 10 anos”, lembra o ex-governador.
O presidente da Comissão da Verdade, Egydio Salles, destaca que o grupo
vai trabalhar com duas linhas de pesquisa, documental e testemunhal.
“Acreditamos que a história tem que ser contada na sua verdade. Os
testemunhos trazem não apenas os fatos, mas também uma avaliação desses fatos
por quem viveu nesse período”, diz Egydio. “Fica a cargo dos governantes
decidir o que vai ser feito com as informações que resgatarmos. Nosso desafio
é trazer a tona os fatos que nunca foram ditos. Ainda temos muitos mortos e
desaparecidos, muitos documentos que precisam ser analisados”, conclui.
A Assembleia Legislativa está representada na comissão pelo deputado Carlos
Bordalo, que também preside a comissão permanente de direitos humanos da
Casa. “A sociedade precisa ter memória para não enfraquecer sua
identidade. O legislativo cumpre o seu dever para contribuir para essa
memória ser resgatada e disponibilizada para a sociedade”.Além dos
depoimentos nas oitivas, a Comissão da Verdade vai percorrer vários
municípios do interior para levantar informações sobre a atuação dos
militares na região durante a ditadura.
Oitivas- Uma lista com mais de trezentos nomes foi elaborada, a partir dos
livros “Cabanos e Camaradas”, de Alfredo Oliveira; “Dom Alberto Mandou
prender seus padres”, de Osvaldo Coimbra e “1964 – Relatos subversivos. os
estudantes e o golpe no Pará”, de André costa Nunes, Isidoro Alves, João de
Jesus Paes Loureiro, José Seráfico, Pedro Galvão, Roberto Cortez, Ronaldo
Barata e Ruy Antonio Barata. Como consultores houve a colaboração de Geraldo
Martyres Coelho e do “subversivo” José Seráfico. A lista não é completa, os
nomes são aqueles que constam da bibliografia citada, e no tempo vai até o
ano de 1969. Outros nomes estão elencados em “Dando nomes aos
bois”, de João Lúcio Mazzini da Costa.
A Comissão Estadual da Verdade tentará colher os testemunhos de todos, exceto
os que já prestaram depoimentos em outras comissões parceiras, cujo material
será aproveitado no relatório final.A Comissão Estadual da Verdade tem nove
membros, representando a administração pública e a sociedade civil: Egydio
Salles(OAB-PA), João Lúcio Mazzini da Costa(Arquivo Público), Marco Apollo
Leão(SDDH), Paulo Fonteles Filho (Comitê Paraense pela Verdade, Memória e
Justiça), Renato Marques Neto(Sejudh), Ana Michelle Gonçalves Zagalo(Segup),
deputado Carlos Bordalo (Alepa), Franssinete Florenzano (Sinjor-PA) e Jureuda
Guerra(Conselho Regional de Psicologia-PA/AP).